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O Garçom De Doze Anos de Idade

Ou O Preço De Uma Infância

Juliano Righetto
3 min readAug 30, 2020

Meu primeiro emprego foi no restaurante recém-inaugurado da minha tia, quando eu tinha doze anos. Eu trabalhava algo próximo de quatro horas por dia, já que o restaurante só funcionava para almoços… Mas aquilo era uma tortura para mim! Explico-me…

Primeiro de tudo, eu tinha doze anos! DOZE! Eu era uma criança no auge de sua criancice! Eu queria BRINCAR de tarde, não sair da escola e trabalhar! Infelizmente, minha mãe achou uma excelente ideia eu começar minha vida profissional com aquela idade, e lá fui eu… Puuuuuto da vida…

Segundo, eu era garçom. Mas não tinha tamanho nem força para servir pratos. Então eu servia apenas refrigerantes. Existia uma belíssima jogada de marketing por parte da minha tia na nossa contratação (minha prima, filha dela de DEZ anos, também foi trabalhar lá): nós éramos bonitinhos, e muita gente ia ao restaurante só para serem servidos pelas crianças bonitinhas! Ah, os anos oitenta… Onde estava a fiscalização para proibir trabalho infantil?

Terceiro, eu já mencionei que era bonitinho? Então… Ao fim do primeiro mês de trabalho, minha tia me chamou para ter uma conversa sobre salários. Eu ganhava, se não me engano, trinta cruzeiros na época. Era um pouco mais do que a mesada que eu costumava ganhar antes (vinte cruzeiros), mas que minha mãe não me dava mais. E eu não considerava que os dez cruzeiros a mais eram o suficiente para comprar o resto de infância que eu tinha para viver. Como se não bastasse, minha tia…

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Written by Juliano Righetto

“We are nearsighted because we are brief.” Actor, Screenwriter, Author, Top Writer 2019 and 2020 on Quora in Portuguese with more than 26 million views.

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